Os dois  autores cariocas falaram sobre ideia distorcida que as pessoas têm das favelas e da dificuldade de acesso da população negra à cultura e à educação

“Há muitas histórias nas favelas, além do tema da violência.  Eu poderia ter escrito ‘Cidade de Deus’ sem um único tiro”, disse o autor carioca Paulo Lins ao comentar sobre a ideia errada que as pessoas, especialmente lá fora, têm das favelas no Brasil.  Paulo Lins falou numa das mesas literárias da Flinksampa , que começou nesta segunda-feira (19), na Faculdade Zumbi dos Palmares e vai até quarta (21). Mediada pelo editor do Caderno 2, do Estadão, Ubiratan Brasil, a mesa com o tema ‘Voz do autor, o que é ser escritor periférico’ contou também com a presença de outro carioca, Geovani Martins, de “O Sol na Cabeça”, também vindo da favela, assim com Paulo Lins.

Geovani contou que quando seu livro passou a ser publicado em outros países, ele temia que fizessem uma apresentação distorcida, colocando, por exemplo, uma imagem de uma favela e um copo  de caipirinha na capa. “Mas isso não aconteceu. O meu livro foi recebido lá da mesma forma que foi aqui. Como uma coisa nova na literatura brasileira.”

Ao responder a uma pessoa da plateia sobre o fato de os escritores negros e periféricos causarem grande surpresa quando alcançam o sucesso, o autor de “Cidade de Deus” disse: “Isso acontece porque o acesso do negro à educação e à cultura ainda é difícil.” Lembrou que quando fez o primário, era o único menino negro de sua classe e, na faculdade, só teve uma colega negra.

Geovani falou que é de uma geração mais privilegiada, em que muitos negros da favela estão se destacando, chegaram à  faculdade e  brilham nas carreiras que escolheram.  “Está melhor agora do que foi no tempo dos meus pais, mas reconheço que a maioria ainda não tem acesso à educação. Espero que meus filhos e netos tenham um futuro ainda melhor. Embora esteja preocupado com o atual momento da política, acredito que ninguém vai nos tirar o avanço já conquistado por pessoas como Paulo Lins e a Conceição Evaristo. E eu vou lutar para assegurar isso.”

A Flinksampa está em sua sexta edição e segue até quarta-feira (dia 21), com mesas literárias, lançamentos de livros, shows e outras atrações na Faculdade Zumbi dos Palmares.